Especialista detalha o que é realmente efetivo no combate à transmissão do novo coronavírus.
Por Laryssa Borges 16 fev 2021, 12h12
veja.abril.com.br
16 de fevereiro, 11h22: Desde o início da pandemia, tirar os sapatos ao chegar em casa, lavar sacolinhas de supermercado, tomar banho imediatamente após voltar da rua e borrifar álcool em tudo foram promovidos a hábitos típicos do novo normal. Como voluntária de uma vacina contra o novo coronavírus, adotei precauções ainda mais ortodoxas, como estocar máscaras feitas com tecidos antivirais e desviar de qualquer pessoa que teime em sair sem máscara pelas ruas. Mas é preciso tudo isso mesmo?
A cada dia cientistas apresentam estudos mais robustos sobre os modos de transmissão da Covid e concluem que a infecção por partículas suspensas no ar é muito mais provável do que tocar em uma superfície qualquer não limpa com álcool 70%. Isso significa que uma pessoa infectada tossindo, espirrando ou simplesmente falando em volume normal já está gerando partículas potencialmente contaminadas. Em um ambiente fechado ou mal ventilado, as micropartículas exaladas se acumulam à espera do próximo a ser alvejado.
Com essas novas descobertas, como ficam os antigos hábitos de higiene adotados contra a Covid? Para entender a efetividade dessas medidas, o blog ouviu a opinião de Vitor Mori, pesquisador na Universidade de Vermont e membro do Observatório Covid-19 BR.
- Usar tapetes sanitizantes: “Não tem muito efeito instalar tapetes sanitizantes na entrada de estabelecimentos porque as vias de transmissão por superfície são muito menos prevalentes, são bastante raras, na verdade. Estudos de rastreamento de contato indicaram que a principal via de transmissão é por compartilhar o mesmo ar. Medidas como os tapetes não são totalmente inúteis, mas acabam sendo um foco desproporcional para uma via de transmissão que não é tão prevalente”.
- Borrifar álcool em tudo: “Os estudos que elaboraram simulações de coletas de amostras próximas das condições do mundo real mostraram que, em superfícies, acabamos encontrando partículas do vírus, não o vírus com potencial de infectar outras pessoas. Estudos de rastreamento de contato indicaram que a principal via de transmissão é por compartilhar o mesmo ar. Nesse aspecto, borrifar álcool em tudo não tem muito efeito”.
- Higienizar compras de mercado e limpar o sapato ao chegar em casa: “Em uma escala, diria que ventilação, uso de máscara e distanciamento são muito mais importantes do que fazer higienização de compras do mercado, limpar o sapato ou trocar de roupa quando chega em casa. É importante como higiene pessoal, mas para o vírus acaba sendo pouco efetivo”.
- Máscaras antivirais: “O nível de proteção que uma máscara de pano ou cirúrgica oferece é muito limitado e depende do ajuste no rosto. O fato de a máscara ser antiviral não adiciona uma proteção extra muito grande. O mais importante é que a máscara tenha bom potencial de filtrar as partículas potencialmente contaminadas e que ela esteja bem ajustada. Não adianta muito a máscara ser antiviral se o ar sai pelos lados ou por cima”.
- Desviar de pessoas sem máscara na rua: “A transmissão ao ar livre é muito mais rara e, para ocorrer, precisaria de uma interação por um período de tempo razoavelmente mais logo, com interação face a face e uma proximidade. Só cruzar com alguém na rua sem máscara não gera um alto risco de contágio, até porque o ar está em movimento. Não precisamos nos preocupar em desviar das pessoas sem máscara nas ruas, embora o ideal é que todos estejamos de máscara, cumprindo com as regras pré-estabelecidas como medidas de prevenção”.
O recado de Mori, doutor em Engenharia Biomédica, é simples: “As pessoas acabam ficando muito ansiosas com algumas situações e desenvolvem neuroses desnecessárias. O mais importante é a ventilação do ambiente. Se você não está fazendo medidas de ventilação e tomando os cuidados para barrar a transmissão pelo ar, não tem muito sentido focar tanto nas superfícies”.